A partir do ano que vem, com o início da transição da Reforma Tributária, quem tentar sonegar impostos no Brasil enfrentará um cenário drasticamente mais arriscado e complexo. A promessa do novo sistema é a de um cerco tecnológico e integrado que tornará a evasão fiscal muito mais difícil, com consequências severas para os infratores. A fiscalização, que hoje é fragmentada, passará a ser centralizada e automatizada, representando uma das maiores mudanças na relação entre o fisco e o contribuinte das últimas décadas.
A transição para o novo modelo tributário começará em 2026, com a introdução da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que unificarão cinco tributos atuais (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS). A implementação será gradual, com um período de coexistência dos sistemas antigo e novo até 2032, e a vigência plena a partir de 2033.
O Fim do “Caixa Dois” Digital: Como a Fiscalização Vai Funcionar
A grande aposta do governo para combater a sonegação está na tecnologia e na integração de dados. As duas principais ferramentas para isso serão o sistema de “split payment” (pagamento dividido) e uma nova plataforma digital de gestão tributária.
Split Payment: O Imposto Pago no Ato da Compra Previsto para entrar em vigor a partir de 2027 para a CBS, o sistema de split payment é a mudança mais revolucionária. Em transações eletrônicas (como PIX, cartão de crédito e débito), o valor referente ao imposto será automaticamente separado do valor do produto ou serviço e direcionado diretamente para as contas do governo (federal, estadual e municipal).
Isso significa que o dinheiro do imposto nem sequer passará pelo caixa da empresa, eliminando a possibilidade de o empresário receber o valor integral e depois decidir não repassá-lo ao fisco. O foco inicial será nas transações entre empresas (B2B), com a expectativa de expansão futura.
Uma Plataforma de Fiscalização “150 vezes maior que o PIX” Para gerenciar a complexidade do novo sistema, a Receita Federal está desenvolvendo uma plataforma digital robusta, descrita como tendo um volume de informações 150 vezes maior que o do PIX. Essa plataforma processará anualmente cerca de 70 bilhões de documentos fiscais eletrônicos. Ela permitirá o cruzamento de dados em tempo real, identificando inconsistências e indícios de sonegação de forma muito mais ágil e precisa do que hoje.
Além disso, a gestão do IBS será centralizada pelo Comitê Gestor do IBS, um órgão que reunirá representantes da União, estados e municípios. Essa entidade será responsável por toda a arrecadação, fiscalização e distribuição do imposto, uniformizando as regras e a interpretação da legislação em todo o território nacional. Isso acabará com a “guerra fiscal” e as diferentes interpretações das regras tributárias que hoje abrem brechas para a evasão.
As Consequências para os Sonegadores: Multas Pesadas e Sanções Administrativas
A nova legislação, que ainda está em fase final de regulamentação, prevê punições rigorosas para quem tentar burlar o sistema. As penalidades irão muito além do simples pagamento do imposto devido.
Multas:

- Atraso ou omissão: Para casos de lançamento de ofício (quando o fisco identifica a sonegação), a multa padrão será de 75% sobre o valor do tributo devido.
- Fraude e sonegação comprovada: Em casos de sonegação, fraude ou conluio, a multa sobe para 100% do valor devido.
- Reincidência: Se o contribuinte for reincidente na prática, a multa pode chegar a 150% do valor total.
Outras Sanções: Além das multas, o projeto de lei complementar que regulamenta a reforma (PLP 108) prevê uma série de sanções administrativas que podem inviabilizar a operação de uma empresa, como:
- Cassação de licenças e alvarás.
- Baixa de ofício da inscrição no CNPJ.
- Cancelamento de benefícios fiscais.
- Imposição de regimes especiais de fiscalização e cobrança.
O Cerco à Economia Informal
A reforma também mira a redução da economia informal. O mecanismo de cashback, que devolverá parte do imposto pago a famílias de baixa renda, é uma das principais estratégias para isso. Ao exigir a nota fiscal para receber o benefício, o consumidor se torna um agente fiscalizador, incentivando a formalização de pequenos comércios e prestadores de serviço.
Em resumo, a mensagem da Reforma Tributária é clara: a era da sonegação fiscal como uma prática de baixo risco está com os dias contados. Com a implementação de um sistema tributário mais simples, transparente e, principalmente, digitalmente integrado, o cerco aos devedores se fechará, tornando a conformidade fiscal não apenas uma obrigação, mas o único caminho viável para as empresas no Brasil.
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